segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

foi onde para

além do arco-íris?novos planetas?sete pés abaixo?terra do nunca?mundo dos passarinhos?corpo de mosquito?divina comédia?fantasia?foi peregrinar para o infinito devido ao finito?foi-se.

domingo, 7 de setembro de 2008

a frase se metamorfoseou.

O meu direito começa onde começa o seu direito.

domingo, 24 de agosto de 2008

blá.

queria que essa solidão se desedentarizasse.

domingo, 10 de agosto de 2008

sei lá eu, hein?

A gente fica meio desincontrado com o que a gente é... não dá nem tempo de aprender as coisa.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O prazer escorrega pelas mãos

Ninguém está pronto, nada está pronto. Tudo é um perpétuo fazer-se.
*
E até o vento, que vive arrepiando toda essa gente, está arrepiado com toda essa coisa.
*
E a velhinha, percebendo a tristeza da neta, perguntou se ela não via mais passarinho verde. Num sorriso singelo, que não convence ninguém, respondeu que via, mas que ele gostava de outras gaiolas.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Todo dia ele diz tudo sempre igual:

P: Ainda é cedo filha
F: Começou... (bocejo.)
P: Mal começaste a conhecer a vida
F: ... ("quase 50 anos de praia", né?!)
P: Já anuncias a hora da partida
F: ... (que drama!)
P: Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
F: ... (Como assim?! Ah! "esse rumo te levará para debaixo da ponte!")
.
P: Preste atenção filhinha
F: Eu presto... (e em dois sentidos...)
P: Embora saiba que estás resolvida
F: ... (Sim, estou.)
P: Em cada esquina cai um pouco a tua vida
F: Vou anotar essa pro seu livro de frases.
P: Em pouco tempo não serás mais o que és
F: Você não disse que sabe que estou resolvida?!
.
P: Ouça-me bem filha
F: ... (Lálálá... não tô ouvindo, não tô ouvindo!)
P: Preste atenção, o mundo é um moinho
F: ... (Ual! uma metáfora! inédito!)
P: Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
F: Mesquinho... (é o caralho!)
P: Vai reduzir as ilusões à pó.
F: ... (Um dia mostro que você está errado!)
.
P: Preste atenção filhinha
F: Não, cansei. Vou pra casa...
P: De cada sonho tu herdarás só o cinismo
F: Você me prometeu que não tocaria mais nesse assunto...
P: Quando notares estás a beira do abismo
F: Ei, já te disse: quanto mais você insiste, mais tenho vontade de te contrariar!
P: Abismo que cavaste com teus pés
F: Nunca te vi tão poético... Vou embora, tchau.
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Referências Bibliográficas: O Mundo É Um Moinho - Cartola
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ps. cansei de passarinhos.

domingo, 20 de julho de 2008

O início é o fim

Trecho do conto Estória do ladrão e do papagaio retirado de Luuanda - José Luandino Vieira

Pode mesmo a gente saber, com a certeza, como é um caso começou, porquê, pra quê, quem? Saber mesmo o que estava se passar no coração da pessoa que faz, que procura, desfaz ou estraga as conversas, as macas? Ou tudo que passa na vida não pode-se-lhe agarrar no princípio, quando chega nesse princípio vê afinal esse mesmo princípio era também o fim doutro princípio e então, se agente segue assim, para trás ou para a frente, vê que não pode se partir o fio da vida, mesmo que está podre nalgum lado, ele sempre se emenda noutro sítio, cresce, desvia, foge, avança, curva, aparece... E digo isto, tenho minha razão. As pessoas falam, as gentes que estão nas conversas, que sofrem os casos e as macas contam, e logo ali, ali mesmo, nessa hora em que passa qualquer confusão, cada qual fala a sua verdade e se continuam falar e discutir, a verdade começa a dar fruta, no fim é mesmo uma quinda de verdades e uma quinda de mentiras, que a mentira é já uma hora da verdade ou o contrário mesmo.

Garrido Kam’tuta veio na esquadra porque roubou um papagaio. É verdade mesmo. Mas saber ainda o princípio, o meio, o fim dessa verdade, como é então? Num papagaio nada que se come; um papagaio fala um dono, não pode se vender; um papagaio come muita jinguba e muito milho, um pobre coitado capianguista não gasta o dinheiro que arranja com um bicho assim, não dá lucro. Porquê então roubar ainda um pássaro desses?

O fio da vida mostra o quê, o como das conversas, mesmo que está podre não parte. Puxando-lhe, emendando-lhe, sempre a gente encontra um princípio num sítio qualquer, mesmo que esse princípio é o fim doutro princípio. Os pensamentos, na cabeça das pessoas, têm ainda de começar em qualquer parte, qualquer dia, qualquer caso. Só o que precisa é procurar saber.

*

Quero falar do amor, mas não sei quando principiou. Em março? (talvez perto da páscoa: ah... renasci! ou talvez do outono: ah... morri.)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Tão bonito.

Chover (ou Invocação para um dia Líquido) - Cordel do Fogo Encantado, composição: Lirinha e Clayton Barros.
"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove"

quinta-feira, 10 de julho de 2008

É

Poeminha do Contra - Mário Quintana
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Mais passarinhos

Toada do Amor - Carlos Drummond de Andrade
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E o amor sempre nessa toada!
briga perdoa perdoa briga.
Não se deve xingar a vida,
a gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
para perdoar,
amor cachorro bandido trem.
.
Mas, se não fosse ele, também
que graça que a vida tinha?
.
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O mês é dos passarinhos

PASSAREDO - Chico Buarque e Francis Hime
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Ei, pintassilgo
Oi, pintaroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol sem fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
.
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O limite maior é doce - e/ou - Porque não era livre

PARDALZINHO - Manuel Bandeira (1943)
.
O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!
.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A andorinha?

Certa vez um milho dentro de uma embalagem de pipoca se metamorfoseou berrando: piPOCa. O grito foi tão alto que explodiu o microondas.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"É assim todos os dias."

Um trecho de O Estrangeiro, de Albert Camus:

Ao subir, esbarrei na escada com o velho Salamano, meu vizinho de andar. Estava com o seu cachorro. Há oito anos que são sempre vistos juntos. O cocker-spaniel tem uma doença de pele, acho que é sarna, que lhe faz perder quase todo o pêlo e que o cobre de placas e de crostas marrons. De tanto conviverem juntos os dois, num pequeno quarto, o velho Salamano acabou ficando parecido com o cão. Tem crostas avermelhadas no rosto e o cabelo amarelo e ralo. Quando ao cão, esse assimilou do dono um a espécie de aspecto encurvado, o focinho para a frente e o pescoço esticado. Parecem ser da mesma raça e, no entanto, detestam-se. Duas vezes por dia, às onze e às seis horas , o velho leva o seu cão para passear. Há oito anos que não mudam de itinerário. Eles podem ser vistos ao longo da rue de Lyon, o cão puxando pelo dono até o velho Salamano tropeçar. Então, ele bate no cachorro e o xinga. O cão rasteja de medo e se deixa arrastar. Nesse momento, é a vez do velho puxar. Quando o cão se esquece, torna a arrastar o dono, e é outra vez surrado e xingado. Ficam, então os dois na calçada, e se olham: o cão, com terror, o homem, com ódio. É assim todos os dias. Quando o cão quer urinar, o velho não lhe dá tempo e o puxa, e o cocker-spaniel vai deixando atrás de si um rastro de pequenas gotas. Se, por acaso, o cão faz no quarto, também apanha. Isso já dura oito anos. Celeste diz sempre que “é uma desgraça”, mas, no fundo, ninguém pode saber. Quando eu o encontrei na escada, Salamano estava xingando o cão. Ele lhe dizia: “Imundo! Nojento!” e o cão gania. Eu disse “bom dia”, mas o velho continuava a xingar. Então eu perguntei o que o cão tinha feito. Ele não me respondeu. Ele dizia apenas: “Imundo! Nojento!” Eu o distinguia, curvado sobre o animal, arrumando alguma coisa na coleira. Falei mais alto. Então, sem se virar, respondeu-me, com uma espécie de raiva contida:

- É, ele não me larga. – Depois, foi embora, puxando o animal que se deixava arrastar e gania.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Descrição de um (não)transeunte

Pedro, pedra.
Um ressecado senhor passava seus dias numa poltrona. Tinha a espécie de alguém que não fora muito feio quando moço, mas sua carrancuda face impedia dizer que fora bonito. Pretas e volumosas sobrancelhas encobriam parte de sua testa, a qual só não ficava pequena devido à careca de pelugens brancas que dava continuidade a esta. Tinha queixo avantajado e nariz bonito, bonito mesmo tendo ramos de rugas. Era magro, com gorduras no abdome. Vestia-se à moda paulista: branca camisa e suspensório. Naquele momento e em todos os demais, a monótona dança da fumaça do cigarro sujava os ares da áspera e escura sala.
Não que não se entediasse com o passatempo, mas sendo um fiel jornalista aposentado lia jornais e corrigia os erros gramaticais, que, por ventura, encontrava. Só esquecia do metódico quando se deparava com a folha de esportes. Lembrava-se de sua infância: “Ah! O remo...”. Terminada a seção de esportes, debruçava-se novamente nos jornais, com o cigarro entre os dedos e a corcunda acentuada, pronto para voltar ao tédio.
De fato, quando Clara falecera, deixando-o viúvo, a casa escurecera. Mais suja a morada ficara quando Poti, o gato, morrera. Pedro tinha mania de limpeza por causa dos pêlos do felino. A aspereza da moradia só viera com a aposentadoria.
Secura, cigarro e fumaça, aspereza, tédio, fidelidade, escuridão, sujeira, jornal e gramática, a casa: são o Pedro, pedra.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Estréia

"Anoiteceu e faz frio. "Merde! voilà l'hiver", é o verso que, segundo Xenofonte, cabe dizer agora. Aprendi com ele que palavrão em boca de mulher é como lesma em corola de rosa. Sou mulher, logo, só posso dizer palavrão em língua estrangeira, se possível, fazendo parte de um poema. Então as pessoas em redor poderão ver como sou autêntica e ao mesmo tempo erudita."
- Lygia Faguntes Telles, Apenas um saxofone.
Vou escrever aqui pra tentar desvalorizar as paredes.